Ver, ser visto e ser aceito entre os semelhantes são as principais razões que levam centenas de jovens a frequentarem o Shopping
Piracicaba nas noites de sexta-feira. A escolha do lugar, no entanto, se deve à distância das frequentes abordagens policiais que ocorriam em outros pontos de encontro em áreas abertas. A presença de adolescentes de classes sociais baixas chega a gerar desconfiança de clientes do centro comercial, mas outros enxergam preconceito nas atitudes de rejeição ao grupo.
Grupo de adolescentes em uma das entradas do
Shopping Piracicaba (Foto: Thomaz Fernandes/G1)
Em Piracicaba (SP), a mesma turma já frequentou a lanchonete McDonald's na Avenida Independência e ainda se concentra nas ruas de entorno do shopping. A maioria é formada por jovens da periferia da cidade, que em geral passeiam e dizem ir aos lugares em busca de paqueras e amizades.
Pelo Facebook, chegou-se a denominar o encontro de "rolezinho", nome associado a arrastões em grandes cidades, mas que até agora não foi sinônimo de problemas de segurança no estabelecimento.
Sempre bem "produzidos", bonés e apetrechos brilhantes são praticamente requisitos básicos no vestuário. Eles andam em grupos de sete ou oito pelo shopping e depois ficam na porta do centro comercial.
"A gente vem aqui para namorar, come alguma coisa no shopping, dá uma volta e depois vai para casa sem causar problemas. Passei a vir para cá por causa da polícia, que sempre dá 'batida' quando estamos na rua. Aqui é mais seguro", disse um garoto de 17 anos.
O amigo do rapaz, de 18 anos, relatou perceber certa desconfiança dos outros clientes e por parte de alguns donos de lojas. "Eles ficam preocupados com razão, pois é um grupo grande de pessoas em que pode acontecer um furto. O problema é que essa desconfiança só acontece com a gente. Tinha que ser com todo grupo grande que entra aqui, inclusive com os playboys", afirmou o rapaz ao G1.
Dentro da área do shopping, um passeio rápido permite identificar reforço da segurança na parte das lojas e no estacionamento, onde há grande aglomeração dos adolescentes. O estabelecimento, por meio de assessoria de imprensa, informou que não vincula a presença dos seguranças à dos jovens e relatou que não há registro de ocorrências policiais em função do "rolezinho".
Preconceito e insegurança
Para o militar reformado Nery Filho, de 58 anos, até que algo em contrário aconteça, não se pode acusar ou discriminar estes adolescentes. "Eu já vim ao shopping na sexta-feira mais de uma vez recentemente e sempre vi esse grupo andando, se divertindo, mas não vi nenhum movimento de arruaça. Creio que há um pouco de preconceito dos que temem o grupo", disse.
"Eu fico apreensiva", disse uma publicitária que sequer autorizou a publicação do nome na reportagem. "Fico com medo quando vejo um grupo de 10 garotos andando juntos. Não acho que seja por preconceito, é mais insegurança mesmo", completou.
Seguranças na entrada do Shopping JK Iguatemi
(Foto: Marcelo D. Sants/Frame/Estadão Conteúdo)
Cartazes com a decisão judicial foram colocados na porta do shopping e a segurança foi autorizada a tomar providências para impedir um "rolezinho" marcado para a tarde deste sábado (11) em São Paulo.
Convocadas pelo Facebook, os encontros passaram a amedrontar administradores de shoppings e viraram alvo de investigações policiais. O Shopping JK Iguatemi foi inaugurado em 2012 e é considerado um dos mais luxuosos da cidade.
Ação na Zona LesteA
Polícia Militar reagiu com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra um grupo de jovens que se encontraram para um "rolezinho" no Shopping Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, na tarde deste sábado. Segundo a PM, houve um arrastão e duas pessoas foram detidas. Segundo a Polícia Civil, foi registrada apenas uma ocorrência após o "rolezinho": furto qualificado a uma loja de games. Durante a confusão, ocorreu ainda um roubo na estação Itaquera do metrô, que fica junto do shopping. Uma pessoa foi presa.
Mobilização em CampinasEm Campinas (SP), jovens causaram aglomeração no portão de acesso do Shopping Parque das Bandeiras na tarde de sábado passado (4) durante uma
tentativa de "rolezinho" marcado pela internet. A Polícia Militar acompanhou a movimentação e não houve casos de violência. A entrada dos adolescentes foi intermediada pelos seguranças e permitida apenas com a presença de responsáveis.
Internauta registrou aglomeração em shopping de Campinas (Foto: Wagner Aparecido de Souza/ VC no G1